Tara é uma manifestação da mente iluminada, um ser no mais alto estágio da iluminação, capaz de satisfazer os desejos dos seres. Tara é a manifestação da compaixão de todos os Budas dos três tempos. É também a deusa que manifesta e realiza as atividades iluminadas dos Budas.
Existiram incontáveis Budas de outras eras. No início de nosso eon, existiu um Buda chamado Mahavairochana.
No tempo deste Buda, havia um grande rei que tinha uma filha chamada Princesa Metok Zay, nome que quer dizer Bela Flor. A princesa Bela Flor era devotada em suas preces e se dedicava a atividades para beneficiar outros seres. Enquanto ainda era uma menina, Bela Flor fez grandes oferecimentos e dedicações, juntamente com atividades generosas, corajosas, pacientes e compassivas de grande virtude em prol dos seres sencientes.
Quando o Buda Mahavairochana perguntou à princesa o que ela mais desejava, ela respondeu: "Permanecer neste mundo até que todos os seres sejam completamente liberados".
Sua resposta foi uma feliz surpresa para o Buda, que nunca havia encontrado ninguém com uma aspiração tão nobre, altruísta e corajosa. Em retribuição a sua nobre disposição e virtude e inspirado por seus desejos em favorecer os seres, o Buda Vairochana espontaneamente recitou a prece das 21 taras para louvar as 21 qualidades de Tara.
Como resultado deste homenagem pelo Buda Vairochana, foi reconhecido que a princesa Bela Flor era uma emanação da Deusa Tara, que havia surgido das lágrimas de compaixao do Bodisatva Avalokitesvara, ou Tchenrezig.
O Bodisatva Avalokitesvara tinha imensa compaixão pelos seres viventes. Apesar de se esforçar incessantemente para ajudá-los, sentiu grande tristeza porque tantos destes seres continuavam a cair nos reinos inferiores de existência. Ele viu que muito poucos seres faziam progressos no caminho para a iluminação.
Depois de aparecer desta forma miraculosa, Tara falou para Avalokitesvara dizendo "Oh, nobre senhor, não abandone a tarefa sublime de beneficiar os seres sencientes. Fui inspirada por suas ações altruístas e me alegrei com elas. Entendo as grandes dificuldades por que você passou, mas se eu assumir a forma da bodisatva Tara como sua correspondente feminina, poderei ajudá-lo em sua valiosa tarefa".Em seu desepero causado pela compaixão, Avalokitesvara chorou, sentindo que não seria capaz de cumprir sua missão de salvar os seres do sofrimento, e de suas lágrimas de compaixão a deusa Tara surgiu.
Ouvindo a aspiração de Tara, Avalokitesvaa se encheu de renovada coragem para continuar seus esforços em favor dos seres, e neste momento tanto ele como Tara foram abençoados por Buda Amitabha por seus compromissos com o caminho do bodisatva.
No momento em que Avalokitesvara chorou de desespero, seu corpo se partiu em mil pedaços. O Buda Amitabha abençoou então seu corpo, de forma que Avalokitesvara surgiu sob uma nova forma com onze cabeças, mil braços e um olho em cada palma da mão.
É dito que, deste este tempo, aquele que recitar a prece para as 21 Taras dita pelo Buda Mahavairochana terá certeza de receber grandes benefícios. O Buda Mahavairochana foi capaz de satisfazer todos os seus desejos. Mesmo para os Budas, existem tempos em que eles não são capazes de atender às necessidades de alguns seres sencientes. Entretanto, após dar surgimento a esta prece, o Buda Vairochana foi capaz de satisfazer não apenas a seus desejos, mas também de todos aqueles que se aproximavam dele.
A Tara verde não é apenas capaz de proporcionar aos seres aquilo de que eles necessitam, mas também de aliviar todos os principais medos dos seres, que incluem os medos de ladrões e assaltantes, medo de água, de cobras, de veneno, de prisão e assim por diante, assim como todos os medos interiores. Todos os medos que afligem os seres são pacificados quando recitam as 21 homenagens a Tara, ou mesmo recitem o mantra de dez sílabas OM TARE TUTARE TURE SOHA.
O Buda Mahavairochana apareceu em tempos muito distantes de nossa era, mas nos tempos do Buda de nossa era, Shakyamuni Buda recitou exatamente a mesma prece, repetindo as palavras do Buda Vairochana, o que é narrado na coleção Kangyur de suas palavras.
Assim, Tara foi também louvada pelo próprio Buda Shakyamuni. Dessa forma, a prece para as 21 Taras traz imensas bênçãos e poder. Inumeráveis praticantes do Budismo Mahayana recitam essa prece todos os dias, esta prece tem soado como um rumor constante desde muito antes de nossa era.
Em tempos muito mais recentes, Tara foi a deidade meditativa de muitos dos grandes mestres da história Budista, grandes filósofos indianos do Budismo Mahayana e Mahasidhas tais como os grandes mestres indianos Nagarjuna e Aryadeva. O pândita erudito Chandragomin tinha visões de Tara e recebeu transmissões diretamente dela. Muitos dos grandes mestres foram, então, praticantes devotados de Tara. O Mahasidha indiano Chandragomin, fundador da linhagem Lam Dre do Buda Hevajra recebeu bênçãos de Tara.
Um dos maiores mestres indianos, que desempenhou um papel muito importante em introduzir a Prática de Tara no Tibet, foi o erudito Atisha. Atisha foi convidado muitas vezes para visitar o Tibet, mas sempre recusava, por ter ouvido falar da grande altitude e clima extremo do Tibet, assim como do caráter turbulento e rude do povo tibetano. Ele duvidava que se lá fosse seria capaz de realmente voltar a mente dos tibetanos para o caminho do dharma.
O grande mestre indiano Atisha, sendo um devoto da Tara Verde desde muito antes de sua jornada ao Tibet, recebeu um dia uma profecia de Tara. A própria Tara disse para Atisha que ele devia ir para a terra das neves, o Tibet, onde ele iria, como o sol, iluminar os seres com os ensinamentos de Buda, dispersando suas trevas.
Desta forma, ele seria capaz de trazer grandes benefícios ao seres sencientes dos países do norte. Tara disse ainda a Atisha que ele iria encontrar um grande discípulo, que seria uma emanação do bodisatva Avalokiteshvara. Ela profetizou que as atividades combinadas de Atisha e seu discípulo seriam capazes de fazer florescer os ensinamentos por milhares de anos, e que eles se disseminariam de lá para outras regiões.
Somente depois de ouvir estas palavras proféticas ditas pela Tara, Atisha abrandou seu julgamento sobre o Tibet e os tibetanos, e resolveu ir ao Tibet. Apesar de inicialmente encontrar dificuldades no Tibet, como a falta de tradutores qualificados e as condições adversas, acabou por encontrar o discípulo que foi profetizado, Dromtonp. Dromtonpa se tornou o fundador da escola Kadampa, que foi a fonte de onde surgiram as encarnações do Dalai Lama.
Foi sob a influência da Atisha que os ensinamentos da Tara Verde vieram a florescer no Tibet. Apesar da tradição Nyingma mais antiga já adotar práticas para esta deusa sob várias formas, essa prática só se disseminou quando Atisho foi ao Tibet e propagou os elogios para as 21 Taras.
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